04/10 - Amsterdam

A vida é feita de ciclos, meus amigos. Há o ciclo menstrual, o ciclo de Krebs, o ciclotímico, o ciclo do birigüi (que vai da boca à piriquita, da piriquita ao fuleco, do fuleco de volta à boca), e hoje esta viagem fecha também seu ciclo, comigo de volta a Amsterdam, onde tudo começou, quase 40 dias atrás.
Parando pra pensar, já estive mais vezes em Amsterdam do que no Rio de Janeiro, Santos, Belo Horizonte, Porto Alegre e Muzambinho juntos! De lavada!
Mas não apenas isto se repete em minha vida, além do maldito ciclo de me perceber acordando a cada manhã seguinte, sem aquela abençoada explosão súbita de um aneurisma no meio da noite, quando, meio dormindo meio acordado, faça uma força para soltar um pum noturno. Quem é metido e chique assiste Hedwig and the Angry Inch num teatro em Nova Iorque uns tantos anos atrás. Mas quem é absolutamente foderoso e excepcional assiste esta merda uma segunda vez, agora num teatro em Amsterdam! Apesar de tantas passagens por aqui, nunca havia assistido nada em algum teatro, e o programa de tantas noites foi meramente ir passear na frente das vitrines das putas, comendo croquetes, sentindo o aroma daquela brisa canábica no ar, e tentando adivinhar qual delas possuía umas polegadas a mais talentosamente acomodadas no recôndito perineal de suas curtas calcinhas.
Por falar em croquete, e não me refiro à polegada de Hedwig, é estranho como a velhice muda a relação da gente com o tempo. Comi meu último croquete hoje por sei lá agora quanto tempo. Nesta viagem, nem cheguei a comer McFish. Mas sei que ambos estarão me aguardando em algum momento indefinido de meu futuro, e cada vez que os como, são como velhos amigos que volto a visitar e voltarei a visitar um dia, como as entranhas daquela peguete que mal-intencionada mas esparsamente te manda parabéns uma vez por ano quando recebe a notificacão do facebook, quando você já está naquele limite de não ter mais certeza sobre qual é mesmo o nome dela.
Mas, ainda assim, um ano é um ano (cada vez mais na minha vida, tem sido um ânus), então, pra fazer uma reserva mnemônica, hoje a dose de croquete e de Dunkin' Donuts foi dupla.
Hoje também encerro mais um ciclo, fecho mais um relacionamento, meio como, mesmo você permanecendo ali por perto, se fecham as pernas de sua esposa depois que ela começa a dar para o orientador do doutorado dela. Depois de anos de serviços cada vez mais precária e insatisfatoriamente prestados, chegando ao ponto da mais inelutável imprestabilidade, como aquela esposa que já está voando ao redor de sua cabeça faz 20 anos, decidi substituir meu velho iPad 2. E sair de vez da esfera de influência da Apple, comprando outro de marca diferente.  Largar da Apple é mais foda do que parar de fumar, mas depois de dois Ipods queimados correndo na chuva eu havia jurado abandoná-la um dia. Como mulher de malandro depois de tomar um tapa dele com a mão mais fechada. O iPhone já se foi faz 3 anos. Hoje, comprei um tablet Samsung. 

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