31/08 - Göteborg

O hotel em Gotemburgo fica meio longe de tudo. Meia hora caminhando com a mochila no lombo pra chegar lá, depois meia hora pra voltar pro centro, mais meia hora à noite pra retornar a ele, e assim por diante. E não fornecem roupa de cama. Adivinhem se resolvi gastar uma grana pra alugá-la ou se eu disse que tinha trazido a minha e agora vou dormir bareback no travesseiro todo babado por alguém que provavelmente não foi a Ana Paula Arósio, e correr o risco de pegar varíola do macaco. E o papel higiênico é meio lixa. Mas até que a vizinhança é gostosinha, e eles deixam lá um café solúvel meio ordinário disponível pra quem quiser.
Eu achava que Göteborg se traduzia por algo como Cidade de Deus, mas na verdade faz referência ao rio Gota, que divide a cidade ao meio, com nem de longe pontes suficientes ligando as duas margens. E aparentemente estão drenando um dedo de água pra construir sei lá o que em cima, então parece que passei o dia andando em um enorme canteiro de obras. Mas as partes ainda poupadas pelo progresso da civilização têm aquela elegância serena de uma cidade grande mas bem menos turística do que Estocolmo. Ainda assim, apesar de ser a segunda maior cidade do país, não tem ninguém oferecendo caminhada "gratuita". 
E, pra encerrar a noite redondinho, um pouco de erudição.
Eu não entendo, juro! Philip Glass tem umas 20 óperas escritas (boa parte delas bem pouco memoráveis, é verdade..). John Adams compôs uma caralhada de óperas, se não exatamente transformadoras, ao menos polêmicas e interessantes. Até Joplin escreveu uma. Já vi ópera de um argentino. Pra não mencionar as ditas óperas-rock e, claro, a evolução natural delas, os musicais. Mas nêgo continua encenando Verdi, dois séculos depois. Não tem uma viagem minha que não esteja com alguma ópera dele ou de Mozart emporcalhando a data que poderia ter sido usada para montar alguma coisa mais interessante. Então, sob resignados protestos, fomos ver Rigoletto.
Até não achei a ópera tão ruim assim, sem tanto daquele recitativo meio chatão, com umas melodias pouco preguiçosas, umas falas um tantinho menos retardadas do que aquele ramerrame constrangedor dos librettos clássicos. Por 113 coroas suecas não foi um completo desperdício, e no intervalo entre os dois primeiros atos ainda deu pra migrar ilegalmente pra platéia, o que deve ser uma prática tão alienígena para os suecos que eles nem têm anticorpos para procurar combater a malandragem.

Comentários

Postagens mais visitadas