16/09 - Zürich

Durante o dia, mais do mesmo, flanar pela cidade, esbarrar em lugares fechados por este ou aquele motivo, almoçar em ainda mais caros francos suíços. Dia basicamente nublado, com algumas nesgas de sol e pancadinhas pouco importantes de chuva. Já não é pouco.
Até aqui, a Suíça tem sido o único país mais chato, com um controle mais policial de seus visitantes, com passaporte já sendo pedido no ônibus desde o embarque na França, depois na fronteira, nos hostels, e no próprio trem, mesmo sendo meramente regional, vindo de Basiléia para cá. Diz o recepcionista do hotel que é porque "nós, suíços, gostamos de segurança". 
Em compensação, no transporte público ninguém exige ou fiscaliza o seu tíquete, e na máquina de auto-atendimento do supermercado não tem nenhuma daquelas medidas de controle contra malandragem que fazem as nossas dar problema a cada 15 segundos e ter que chamar a mocinha. Você simplesmente passa os produtos no leitor, digita de boa fé quais e qual  a quantidade dos itens sem código de barras, paga e vai embora.
Ontem havíamos encontrado o anúncio de um workshop de fabricação de croutons. Não que fosse dar pra entender alguma coisa, mas fomos verificar, quem sabe de repente desse pra encher o bucho na degustação. Chegamos lá e era só uma mesinha com duas pessoas fritando pedacinhos de pão, mais nada. Hoje, o programa cultural foi a abertura de um festival de música de improviso por um violoncelista no auditório de uma igreja. Peças clássicas mas pouco conhecidas, e como a proposta era de algum modo improvisar em cima, às vezes nem dava pra saber bem quando o cara estava tocando livremente e ou quando estava afinando o instrumento. Menino, cara de que havia acabado de sair do conservatório. Sem dúvida toca violoncelo melhor do que eu, assim como o pessoal de ontem frita pãozinho com habilidade maior do que a minha, mas é visível como tudo o que aparece na internet acaba parecendo mais relevante do que às vezes realmente é.
 Vale pra música clássica o mesmo que escrevi sobre ópera, mas dou pro cara um pouco mais de colher de chá. Música instrumental antiga soa menos datada do que ópera, e música erudita contemporânea, na média, é uma coisa chata pra cacete.
Dizia na internet que a apresentação era gratuita, mas achei por bem confirmar com a tia num balcãozinho, pois havia um monte de gente na fila pagando uma grana legal pro que na verdade seria a apresentação subsequente, esta paga.
É sempre aquela coisa meio humilhada... Além de hoje, entrar em dezenas de museus e perguntar pro moço da bilheteria se é de graça. Imaginá-lo pensando "Só podiam ser brasileiros miseráveis mesmo. Vêm até aqui, não entram na exposição só porque, com não óbvias exceções, claro que tem que pagar, ela não saiu da bunda. E ainda usam o banheiro antes de ir embora".
Mas o ponto alto da passagem por Zurique é o "hotel cápsula" que arrajamos. A única coisa de preço vagamente menos estuprante, e faz juz ao nome. Você paga não por um quarto, mas por um buraquinho na parede, não muito diferente de um sarcófago, ganha um armário numa outra parede pra deixar suas coisas, porque não caberão na "cápsula", e passa a noite toda emburacado lá, escutando as outras múmias revirarem e roncarem ao seu redor. Deve ser assim que as pessoas moram no Japão e que o capitão merece morar depois de devidamente enviado a Bangu 2, mas provavelmente o miliciano dormindo em cima dele na cela faria menos barulho de movimento do que meu colega da tumba acima.

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