18/09 - Innsbruck
E hoje, depois de 22 longos, quentes (e em vários deles, chuvosos) dias, acho que finalmente consegui ter um deles como na Europa devia ser: mais frio do que aí no Brasil. Ventinho geladinho, dia ensolarado, ainda talvez um pouco mais ardidamente do que o necessário, e alpes nevados ali pertinho ao todo nosso redor, era só olhar pra cima.
Pra quem não veio esquiar, Innsbruck não tem tanto assim pra fazer, além daqueles dois ou três lugarzinhos turísticos safados, devidamente registrados aqui nas fotos. Mas apesar de pequena, tem cara e estrutura de cidade urbana plena, dá pra passar um dia aqui sem precariedade, os preços são menores do que aquela escabrosidade da Suíça, e a moeda voltou a ser o euro.
Brasileiro é que nem herpes, depois que a gente contraiu, cedo ou tarde vai ter outra crise. Brasileiro é que nem eleição do Lula. Teve uma, teve duas, e se o capitão não conseguir melar, vai ter a terceira. Brasileiro é que nem caganeira, quando a gente acha que acabou, começa tudo de novo. Hoje, pela segunda vez em dois dias, adivinhem o que senta na mesa ao lado da nossa, durante o almoço? Sim, e não eram os mesmos de ontem, de Liechteinstein!
Pelo menos, o que nos irmanou foi o absoluto desapotamento com a lerdeza, desajeito e incompetência de Fernando, o garçon chileno que nos serviu, ou, melhor, desserviu. A certo ponto todos os brasileiros abandonamos nossas mesas em coro, cansados de esperar pela figura que se atrapalhava ali do lado. Mas nós voltamos depois, porque era realmente o restaurante mais barato. Aí o sujeito nos atendeu com aquela cara de bunda. E não ganhou gorjeta. Não que, dentre todos os outros e outras que demonstraram mais talento para a sutil arte de trazer uma garrafa de coca-cola, algum tenho ganho.
À tarde, a caminho da loja do Dunkin' Donuts (que aqui aceita dinheiro!), para mais uma dose de um glorioso frapê de caramelo, vários transeuntes passavam por nós com saquinhos e caixas de donuts nas mãos. Eu pensava: isto não vai acabar bem. De fato, ainda faltando hora e meia para o fechamento da loja, esta já era uma terra devastada, com a vitrine mais vazia de rosquinhas do que o Palácio do Planalto de compostura e caráter. Ainda escutei textualmente do balconista: "você chegou tarde demais". Só me restou pegar um exemplar de boston cream mesmo, que é meio como a vizinha do 43: nada memorável, mas ainda assim serve pra dar umas mordidas. Mas o frapê, cidade após cidade, país após país, continua como aquela colega da aula de bicicleta da academia: um inenarrável prazer de sentir em contato com minha língua.
À noite, uma performance meio xumbrega com tema de bruxaria, pretexto pra falar do empoderamento feminino e coisa e tal, ou suponho que tenha sido, Alemão, assim como quiabo e horóscopo, não é meu forte. Aquela coisa esforçada e sincera, mas amadora, pobre em recursos, que não sabia de onde saía ou onde pretendia chegar. Não teve sequer peitinhos, mas, no ato final, uma das moças cantando e tocando harmônio redimiu aquela coisa constrangedora toda.
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