19/09 - Linz

Saindo de Innsbruck cedinho hoje, passamos mais uma vez pelo Dunkin' Donuts, já aberto. Então, já sabe, né? É como saber que você vai passar apenas um fim de semana sozinho numa ilha deserta com a Sharon Stone, e depois acabou. Tem que mandar brasa, sem nem perder tempo pra pedir pra ela fingir que é um amigo seu, pra você poder contar pra ele que está comendo a Sharon Stone, como diz a antiga, e agora reprovada pela jihad moral, piada.
O almoço também foi pizza, pelo terceiro dia consecutivo, porque a aparência estava tão boa. E desta vez, finalmente, sem brasileiros sentados ao lado.
O caminho para Linz incluiu uma baldeação, com o segundo trem fazendo um pinga-pinga nauseante. Andava 500 metros e já dava mais uma paradinha no próximo vilarejo, levando umas 3 vezes mais tempo para chegar aqui do que nos custaria se tivéssemos simplesmente permanecido no primeiro trem, que também vinha para cá. Fiz a besteira de perguntar pro cobrador se era necessário mesmo trocar de trem, já que havia lugar no primeiro, e passava pelo mesmo lugar, para receber aquele olhar de atônita, quase apoplética, incredulidade, seguida de um "mas é claro, foi este o bilhete promocional que você comprou"...
E hoje, meio como uma menstruação turística semanal, novamente chegou a vez da síndrome da segunda-feira: todos os museus fechados. E havia um de arte eletrônica que parecia tão promissor e interessante, e agora nunca mais, já era. 
Esta viagem tantas vezes repete a vida, na qual amiúde só se tem uma única oportunidade para fazer uma escolha, que, se perdida, não dá direito a respecagem. A diferença é que aqui as escolhas já são feitas à nossa revelia. 
Em mais um episódio de uma daquelas coisas que pareciam tão interessante no site na internet, e depois na prática não são bem assim, à tarde corremos e corremos e corremos láááá pra casa do caralho pra assistir a um concerto de trombone que, na verdade, pouco mais era do que um ensaio de alunos deste instrumento de uma faculdade de música, e ainda apenas tocando solo as partes do trombone, de peças que, com a instrumentação completa, provavelmente já não seriam tão grande coisa mesmo. Mas não deixou de ter seu mérito, com o professor apresentando em inglês as peças para nós, a única audiência além dos outros alunos, que olhavam uns para os outros procurando entender o que aqueles latinos estavam fazendo no auditório.
E, no final, não conseguimos escapar da maldição de Anastasia.
Lembrou-me das férias do ano passado, quando, naquele deserto de coisas abertas e funcionando e atividades culturais acontecendo do sul americano profundo nas duas últimas semanas do ano, tudo o que conseguíamos encontrar, cidade após cidade, eram apresentações com ingresso bem caro do Mannheim Steamroller, cuja turnê provavelmente havia sido planejada por um gêmeo maligno meu. Desta vez, aparentemente é este musical que está excursionando, ou tem várias montagens simultâneas acontecendo. Já havíamos perdido a oportunidade em Mälmo, por lotação esgotada, e eis que que o encontramos aqui de novo, a escorchantíssimos 28 euros por cabeça. Nada memorável, argumento tolo, baseado num desenho animado bobo, cenografia pouco desenvolvida, música e letras meio arroz-com-feijão. Cantada em alemão (eu que reclamo tanto de assistir musicais no Brasil com versão em português, acabo caindo em uma versão alemã. Talvez na Suécia fosse a original), com as legendas sendo apresentadas numa telinha nas costas do assento da frente, o que forçava a escolha entre olhar para frente, para o palco, ou ter que desviar o olhar da ação para ler o texto.
Ainda assim, como qualquer musical medíocre acaba se mostrando mais interessante do que uma ópera de Verdi.
E com os pés ensopados, porque, mais uma vez, o dia foi de chuva quase constante, aporrinhação maior do que me causou a virilha nos dias de sol do início da viagem.

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