20/09 - Praha
No ônibus a caminho daqui, tivemos o ambíguo prazer de conhecer dona Brigitta, meio que cidadã do mundo, que já morou em porrilhões de lugares e fala cagalhões de línguas, mas se diz antes de mais nada uma brasileira. Narcisisona ao extremo, adora falar de si mesma. E bolsonarista clássica, o discurso padrão estava todo lá. Do Lula corrupto ao STF lamentável (principalmente o Moraes, claro). Do Bolsonaro espontâneo e bonachão até a recusa à vacina. Impecavelmente idêntico ao de todo outro velhinho bolsomínion que qualquer um de nós conhece, deve receber os mesmos whatsapps de orientação do Carluxo. Fui subitamente transportado aos almoços dominicais com meu bolsopai por uma meia hora.
Já estive aqui duas vezes, mas sei lá por que havia pegado alguma birra contra a cidade. Uma das primeiras a abrir depois da queda da União Soviética, achava mais ocidentalizada e cara do que as outras, comparando com a Hungria, pra onde havia ido logo que se abriu ao ocidente, e me fascinado com aquele pobreza e precariedade, e achado fantástico pagar 17 centavos por um bilhete de metrô, que, se me lembro bem, era uma coisa tão velha que era feita de madeira. Digo, o metrô, não o bilhete.
Mas vindo da Suíça, até achei os preços por aqui bem amenos, semelhantes aos praticados em São Paulo. E, agora, décadas depois, a ocidentalização avançou bem até na Albânia, e já envelheci o suficiente para querer mais conforto mesmo.
Durante a tarde, aquela correria de quem tem alguma horas para cobrir a cidade inteira, comer rapidão em mais um buffet indiano bem meia-boca, correr para a primeira caminhada, guiada por um cubano não especificamente brilhante ou didático, com só mais um sujeito mal-humorado além de nós, então teve que morrer uma grana, depois correr mais, não ter tempo pra comungar com nosso senhor jesus cristo comendo uma hóstia em Praga, participar rapidinho da segunda caminhada, esta sim cheia de gente, dando pra escapar de fininho. Tudo embaixo da onipresente chuva, que dava uma pancada, encharcava os pés, desaparecia, permitia um pouco de sol, para voltar a cair quando os pés ameaçavam começar a ficar apenas úmidos, e em cima do chão das amaldiçoadas pedras céfalomelanodérmicas, que são padrão em 98% das ruas e calçadas aqui em Praga, e mastigam impiedosamente as solas dos pés de quem anda com calçado de solado fino. A partir de amanhã, vou meter meu tênis de corrida mesmo e ser feliz.
E à noite, aquele pequeno prazer culpado, como dizer pra esposa que vai pro plantão e dar aquela escapadinha pra sauna gay: uma apresentação de teatro de luz negra.
Puta armadilha pega-turista, como as inúmeras apresentações de música clássica em qualquer igrejinha nesta cidade, a 19 euros por cabeça, colaborando decisivamente com o aquecimento global pelo número de folhetos de propaganda sendo distribuídos àquela massa amorfa de viajantes que infestam a região central da cidade. Aliás, Praga me lembrou Istambul. Aqui, de cada 3 estabelecimentos, um é uma casa de câmbio, um vende doces de rua e sorvetes para turistas e um é uma igrejinha vendendo apresentações caras de música clássica. Na Turquia, é uma casa de câmbio, uma vendendo lokum, e a terceira já não me lembro o que.
Mas, enfim, o teatro de luz negra: pega-turista total, com uns 4 lugares na cidade oferencendo coisa semelhante, mas o preço não era maior do que a de uma duplinha com uma soprano e uma harpista cantando Händel na igrejinha, e a coisa toda no final foi muito bem-feitinha, boa música, boa coreografia, bons efeitos visuais. Mas não consegui entender como fazer para meu canudinho fluorescente acender.
E continuo virgem de outros buracos negros de turista, como o Fantasma da Ópera, ou Cats. Meio como ter ido alguma vezes à sauna gay, mas jamais ter dado a bunda.
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