22/09 - Wrocław

   Dia mais ou menos em velocidade de cruzeiro no que uma viagem de férias deve ser. Sem chuva, friozinho honesto, preços razoáveis, lugar bacana, caminhada em inglês com um guia divertido e cheia de gente, pra dar pra escapar sem pagar. Sem dor na virilha, com algum incômodo nas plantas dos pés, castigadas pelo calçamento que também aqui desconhece o significado de asfalto, concreto, ou alguma forma de regularidade. Mas é suportável.
Enfim, é mais ou menos como quando suas mucosas finalmente estão se atritando contra as mucosas daquela enfermeira ruivinha que entrou para o plantão ímpar no hospital, e meses depois finalmente resolve ceder aos encantos de suas barbas brancas e de sua testa sexy, que, ao contrário de sua piroca, está a cada dia maior.

E aí você se surpreende devaneando com alguma futura viagem, ou com aquele outro lugar onde não está, ou, mais raramente, onde já esteve. Como se, na lúbrica, trêmula e pervertida companhia da enfermeira supracitada, fechasse os olhos e se pusesse a pensar na vizinha nova que acabou de se mudar para o seu prédio, e em como num futuro próximo estará fazendo com ela coisas que causariam inveja àquele sujeito de chinelos havaianas nos pés e tatuagem de versículo bíblico no braço que entrou junto no elevador e deve ser o marido dela.
E aí isto te força a perceber este buraco, este vazio, este vácuo, que mora dentro de sua alma, que inconformado e sempre inarredavelmente insatisfeito te suga constantemente para a frente, onde ao final mora o abismo, ao mesmo tempo que te impossibilita parar, respirar fundo, sentir o aroma de café que algum lugar próximo emana, e estar onde efetivamente está.
E, pra encerrar a noite, hoje foi o dia anual de meu trato digestivo comungar com nosso senhor jesus cristo, em mais uma daquelas missas modorrentas, burocráticas, com o padre fazendo aquela cara de bosta, mal disfarçado a vontade daquela merda terminar logo para poder voltar para os braços, ou outras porções anatômicas, do coroinha. Tão diferente daquela vibração e animação dos cultos neopentecostais, tão cheios de capetas e possessões maléficas, com os pastores vibrando de um modo que apenas o som do dízimo caindo na conta bancária pode inspirar.
Mas é assim. Quem é comum vai comer hóstia lá na missa de sétimo dia de um tio que morreu de covid. Quem tem classe vem comé-la (a hóstia, não a enfermeira) aqui na Polônia, terra de meu saudoso amigo João Paulo.

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