23/09 - Łódź

Hoje foi o dia de dar uma rapidinha. Não aquela que a gente dá com a patroa só pra cumprir tabela, de olhos fechados, pensando na irmã dela, e secretamente desconfiando que ela está pensando naquele cara argentino que ela confessou ter recebido descamisadamente dentro de seu ânus em um banheiro de 
balada, após ter se embriagado, naquele sábado em que a gente estava de plantão, ou a rapidinha que a gente dá com o cara que veio consertar a geladeira, porque ele ainda tem mais dois consertos agendados para aquela tarde, mas aquela passadinha por Łódź, só porque estava ali pertinho mesmo, no caminho, e seria um desperdício perder a oportunidade de acrescentar à coleção. Meio como quando a mãe da vizinha do 43, de cujos lençóis você é um frequentador contumaz, ainda que pouco entusiasmado, toca a campainha pra pedir jornal pra forrar o chão do xixi do cachorro, demora-se um pouco mais à porta do que seria necessário, e você se pergunta "por que não? quem nunca?".
Mas o problema das rapidinhas é que elas são rapidinhas. No momento em que você ainda deveria está com a língua dentro do umbigo, você já está com os punho no ponto G, e, no momento em que a parceira devia estar se contorcendo em alucinado êxtase orgástico, você já está dentro do carro, a caminho da rapidinha seguinte. Foi o que aconteceu em Łódź. com apenas 6 horas para conhecer a cidade, incluindo uma margem para não chegar em cima da hora na rodoviária, o ônibus saindo de Wrocław ainda atrasa uma meia horinha. Chegando aqui, aquela perda de tempo pra descobrir onde fica o armário pra deixar a bagagem, encontrar a casa de câmbio que não fica no lugar indicado no aplicativo, procurar a próxima casa de câmbio porque nesta a cotação não parecia boa, só para acabar trocando o dinheiro por uma taxa pior ainda na casa de câmbio seguinte, porque não há muito tempo a perder correndo atrás da próxima ou voltando para a anterior, e então passar por uma padaria, e achar os salgados meio caros, e ir pra próxima, e achar os doces bonitos mas querer comer algo salgado antes, e descobrir que a padaria seguinte é na verdade um açougue, e no caminho passar por uns três museus que você marcou no mapa na véspera mas nem se lembra do que realmente se tratam (e cujos nomes na fachada, escritos em polonês, não se deixam decifrar), mas acaba desistindo de entrar porque custam dinheiro, e então terminar comendo uma fatia de pizza (sim, pizza de novo...) na barraquinha de rua mesmo, que não tinha os preços afixados em lugar nenhum, e que acaba custando fortuna maior do que se você tivesse pagado pra entrar no museu que você nem se lembrava do que exibia.
E aí você já viu toda aquela única atração turística gratuita da cidade, que na verdade é apenas uma fábrica de roupas antiga convertida em shopping center moderninho e ainda são só 4 da tarde, e aí decide abrir as pernas e ir ao cinema pra fazer hora, e assistir algum filme que poderia pegar de graça na internet depois, mas melhor ir a uma outra sala mais perto da rodoviária pra não correr o risco de perder o ônibus, e correr, e correr, e correr, só pra morrer na praia e constatar que o filme começa daí a 5 minutos e ainda faltam 6 quarteirões, então fodeu, não vai dar tempo, mas aí já estar muito longe daquele shopping center onde pelo menos daria pra ficar sentado com conforto no pátio vendo o por do sol, e então ter que ficar flanando mais duas horas pela cidade, e entrar no próximo shopping center, pegar uma fila enorme no supermercado pra comprar um energético baratinho, só pra em cima da hora olhar melhor o rótulo, descobrir que aquilo era sabor manga com maracujá, largar aquela merda na prateleirinha dos chicletes e voltar pra rodoviária. E aí descobrir que o ônibus da noite atrasou também, e teria dado pro assisitir o primeiro filme na boa.
Mas, assim como a boca parcialmente desdentada da mãe da vizinha do 43 acaba revelando mistérios imaginados mas até então não vivenciados, também a mera correria afobada, mal planejada e se foco pela cidade não se mostrou de todo ruim. Aqui a cidade guarda bons vestígios daquele charmoso abandono e precariedade soviéticos de décadas atrás, com seus pequenos mercadinhos que são portinhas minúsculas com 3 ou 4 coisinhas à venda, docerias que são meras janelinhas em uma parede que não vê pintura há 6 décadas, jardins de grama mal aparada no interior dos quais a modernidade da abertura ao ocidente plantou uma qualquer enorme estrutura de arquitetura moderna e propósito incognoscível. Meio como descobrir que o cara do conserto da geladeira tem o rosto do Che Guevara tatuado em sua púbis depilada. Endurecer, mas sem perder a ternura, camaradas!

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