24/09 - Warszawa

Varsóvia, novamente. Que por boa parte de minha vida foi apenas o título curioso de uma música do David Bowie. Foi a primeira cidade ex-soviética que visitei, e me lembro da sensação de estranhamento, de estar em algum lugar essencialmente diferente, como se cruzar a antiga cortina de ferro tivesse me transportado para uma outra dimensão alienígena. Tudo muito barato, deu pra ficar num puta hotel 4 estrelas sem sentir o bolso arder. Mas eu era jovem e me deslumbrava fácil. Voltei acho que mais umas duas vezes, com a alma já mais amortecida pelo progredir da idade, e guardava memórias menos entusiasmadas. Desta vez, me passou o colorido uma cidade grande européia mais periférica padrão. Com pouca gente na vendinha da esquina capaz de falar inglês, sem internet gratuita ou fácil de conseguir na rua, com aquela certa rudeza dos europeus orientais perceptível, mas ainda assim não um lugar depressivo ou desinteressante para se estar. Em que pese a tia da bilheteria do museu, que ao sábados era grátis segundo o site de turismo da cidade, e que não nos deixou passar mesmo com um ingresso de entrada livre, obtido na exposição ao lado, sendo esfregado em seu focinho monoglota.
E amanhã tem mais uma maratona! O checklist da decrepitude física inclui ainda algumas fisgadas leves na virilha em alguns raros passos (anos de treino tirado de minha orelha devem ter fodido alguma coisa na minha articulação da coxa), ambas as solas dos pés doloridas e um pouco inflamadas e, agora, uma dorzinha na porção interna dos calcanhares que parece mais um episódio de fascite plantar prestes a se instalar, fruto de não menos de 15 km diários sendo caminhados todo santo dia, faça chuva ou faça sol. Até aqui, mais chuva. E martelar estes calcanhares por 42 km amanhã não deve ajudar muito a melhorar nada.
E a maratona daqui parece ser coisa mais de gente grande. Enquanto nas duas outras a estrutura de retirada no número parecia mais humilde, praticamente passar num balcão, pegar seu envelopinho e pronto, aqui fecharam toda uma ala do maior prédio público do país, montaram uma feira de produtos esportivos associados respeitável, e junto com o envelope vem uma sacolinha com vários mimos e porcarias de presente: bandana, energético, um gatorade saboroso, saquinho de frutas secas, água com frescura de magnésio e o caralho.
Aqui, pela primeira vez na viagem, presenciei alguma afetação com a questão da Ucrânia, que em todos os outros países parece ser tratada com uma distanciada indiferença. Gente tocando e cantando na rua enrolada na bandeira daquele país, uma dúzia de mocinhas passando a sacolinha de doação na praça principal, passeatas a favor e contra o envolvimento da Polônia  no conflito, dezenas de policiais na rua tentando impedir algum choque entre os dois grupos.
E, apesar de meu inequívoco apoio a qualquer tipo de agredido, injustiçado e oprimido, adivinhem se minha mesquinhez me permitiu botar a mão no bolso para pingar umas moedinhas...
Também pela primeira vez em quase um mês, consegui me pesar, em uma balança lá na feira esportiva. Em qualquer outro lugar do mundo exceto o Brasil, é mais difícil encontrar balanças em lugares públicos do que pêlos pubianos, atualmente, em qualquer mulher com menos de 75 anos. 68,75 kg, com o tênis mais pesado de corrida e tudo. Parece que ganhei alguma barriga (mas isto sempre me parece mesmo), mas não ganhei peso! Ou ganhei peso mas perdi a mesma quantidade em cabelos.

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