26/09 - Poznań

Ray Wilson. Ao me deparar com este nome enquanto procurava alguma coisa com a qual gastar dinheiro em Poznań, fui tomado por um vago aroma de familiaridade, tal como quando a moça baixa a calcinha e você se vê transportado para aqueles banho de mar gelado, numa praia pedregulhosa de Nice, só pra dizer pra si mesmo que marcou presença.
Depois fui pesquisar, e, claro, era o novo vocalista do derradedeiro disco do Genesis, que produziu um surpreendentemente bom disco depois daquela bomba meio estranha e sem alma que foi o último com o Phil Collins, mas que passou absolutamente em branco e desapercebido, levando o grupo a parar por ali mesmo. Assim como o banho de mar em Nice ou a moça cuja retirada da calcinha lhe despertou tais memórias olfativas.
Showzinho local, num anfiteatro de faculdade, bem menor e provavelmente mais antigo do que nosso Theatro Municiphal, para um público de médio tamanho, mesmo os assentos de ingresso mais baratinho não estava longe da banda. Acústica ruim, afinal não era um lugar projetado para shows de rock em alto volume. E ninguém sequer cobrou a entrada, que não tinha custo simbólico, era só entrar, sentar no seu cantinho e ser feliz.
Metade do show baseado em músicas do Genesis, não necessariamente aquelas do disco no qual o cara cantou. Deve ser sofrido você participar de um único e já meio fim-de-festa disco de uma banda famosa, e depois passar o resto de sua carreira jactando este distintivo em seu peito, cantando as músicas clássicas com as quais não teve qualquer envolvimento.
Mas, enfim, tudo posto, um show bacana, com um baterista genial, um monte de velhinhos pulando em suas cadeiras na platéia, quase tantos quantos naquele geriátrico show do Elton John com James Taylor de uns tantos anos atrás, e, se o cantor não é nada muito diferente do que a gente vê tocando seu violãozinho a troco de moedas na praça da cidade, o baterista, como eu disse, foi fantástico, e tinha até uma violinista na formação da banda.
Mas me apresso. Antes do fuleco tem a perseguida, e antes da perseguida tem o beijo no pescoço. Antes deste, aliás, tem que esperar o marido sair para o trabalho.
Então, Poznań: a sorte da cidade é que não mencionam isto nos guias turísticos, ou demais fontes de informação, mas 90% da superfície das ruas está em reformas, interditadas, com aqueles gradeados que te empurram em zigue-zague de um canto pra outro nas estreitas calçadas também com calçamento retirado que restaram para alguma forma de deslocamento possível. A praça central, fulcro do movimento de turistas, como geralmente são, parece a Ucrânia após a passagem de Putin, uma terra devastada, com pilhas de escombros para onde quer que se olhe. Talvez um pouco menos de cadáveres apodrecendo a céu aberto.
Diazinho nebuloso, com apenas uma garoinha eventual, mas aquela feiúra que os dias nublados emprestam às cidades, principalmente se aruinadas por esta reforma irrestrita de seu subterrâneo. 
E acompanhado por uma horda de molequinhos melequentos da escola local, que deviam estar em dia de excursão cívica pela cidade com o professor pedófilo, e com os quais era necessário disputar espaço nos estreitos bretes com chão de areia úmida pelos quais era possível transitar.
Ah, sim, foi segunda-feira. Tudo fechado. Menos o show da noite, se pensar bem dia bastante atípico para um show de rock.

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