27/09 - Dresden

E quando a gente acha que vai meio que enfiar um dia inteiro na bunda, ou enfiar meio dia inteiro na bunda, ele progride por conta própria meio metro a mais pra dentro de seus intestinos, e sai pelo outro lado, malcheiroso e purulento, só para te lembrar que tudo sempre pode ficar pior, e que o que nos aguarda no fundo do poço é outro buraco mais escuro ainda.
Não encontrei nada muito memorável para fazer em Dresden, mas pelo menos tinha uma caminhada às 4 da tarde. Em espanhol. A chegada já envolvia duas pernadas de ônibus, de 3 horas e meia cada uma, com uma baldeação de uma hora em Berlin, na qual imaginei que ao menos daria pra dar uma volta curta pela cidade, pra compensar a maratona não corrida lá, porque as inscrições já haviam se esgotado. Conseguir correr nas majors é punk. E então chegar correndo em Dresden, largar a bagagem no hotel e dar um jeito de estar no começo da caminhada às 16:00, com apenas meio dia perdido com o rabo sentado nos busões.
Mas, sei lá por que motivo (provavelmente mais uma vez ligado ao banheiro, mas desta vez sem participação causal minha), o primeiro acabou atrasando uma hora no caminho, transformando a voltinha por Berlin em uma janela de 5 minutos para o transbordo, e depois atrasou um pouco mais no engarrafamento da rodovia, levando à perda da conexão, por coisa de poucos minutos.
Na janelinha da Flixbus, improvisada num container, fora da qual tive que aguardar um quarto de hora sob, novamente ela, a chuva que inundava meus pés, eles somente te remarcam a passagem, dão um carinhoso e bem encoxado abraço por trás, e é isso aí, minha nêga, quem mandou não tomar um avião? Próximo ônibus saindo só às 3 da tarde, chegando 5 e meia, caminhada perdida.
E a estação central de ônibus não fica próxima ao centro da cidade, então nem havia nada digno de interesse para explorar, sob chuva forte, nas imediações. Sem wi-fi fácil nem mapinha da cidade carregado no aplicativo, acabei fazendo o que em outras oportunidades se mostrou um desafio vigoroso, encontrei um all you can eat ali nas imediações, meio fuleiro mas ajudou a dar um tempo enquanto a umidade subia dos meus pés até minha alma, entretido com o dilema entre comer menos no buffet e ficar frustrado por achar que desperdicei uma grana com meu comedimento, ou encher o toba de comida até o bico da hemorróida, e saber que tudo aquilo ia virar banha que precisaria ser combatida depois.
Já no ônibus substituto, cujo wi-fi não funcionava, uma senhora antipática cuja língua nem o motorista nem o ajudante conseguiram identificar passou a viagem toda assistindo alguma coisa em seu celular em alto e bom volume, demonstrando que baiano folgado é como um fungo que brota de qualquer fresta encardida na calçada, não apenas em nossos quentes trópicos.

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