28/09 - Dresden

E hoje o ônibus só não atrasou feio porque não tinha ônibus. Até aqui, foi o dia mais desgraçadamente chuvoso da viagem. Chuva constante, fraca e depois forte e fraca novamente, e assim por diante. Até o tênis de corrida, mais alto e um pouco mais resistente à água vinda do chão, em certo momento se encharcou inegociavelmente. Até pela gola do agasalho de frio, razoavelmente impermeável em seu tecido, acabava se inflitrando água, que descia em direção à minha pança, fazendo aquele sanduíche de umidade, com um agasalho em volta e o Aderbal como recheio.
Sei lá por que, eu tinha uma fantasia de Dresden como uma cidade mais moderna, talvez por associar à reconstrução após a sabida devastação causada pela guerra. O que até não é falso em algumas partes mais afastadas do centro, mas a reconstrução que realmente conta foi a do miolinho central, com uma csntena de castelos e igrejas e palácios e monumentos e pracinhas espremidos num espaço de uns 4 quarteirões reconstituídos. Nem em regiões temáticas de parques de diversão vi uma densidade tão grande de arquitetura de época contínua, pujante, com um prédio praticamente grudando no outro, ininterruptamente. Costumo achar meio entediante esta porção das viagens, a parte século XVII, mas aqui me impressionei. Talvez por já ter sido reformada toda mesmo, foi também a cidade menos em obras até o momento, já que as outras, principalmente Poznań, sem comentários.
Fração cultural e gastacional de dinheiro do dia: um musical absolutamente local e obscuro, sem nenhuma descrição ou referência em qualquer lugar que não fosse em alemão, assim como obviamente a língua falada na apresentação e usada no programinha distribuîdo. Sem a mais remota hipótese de que algum turista se interessaria por ir assistir aquilo. Bom, na verdade, nada diferente de qualquer peça que se vá assistir no Brasil. Uma mistura de gravação de Sai de Baixo com Saltimbancos, com um fiapo de história, interpretada de forma deliberadamente canastrona e forçada, como pretexto para encaixar músicas da gravadora AMIGA, uma espécie de Motown da época da Alemanha Oriental. Uma tentativa de Mamma Mia teutônica, mas com 15 minutos de teatrinho entre cada canção. Os predominantemente senhores e senhoras maduros da platéia batiam palmas, segurando suas taças de vinho branco, e cantavam junto, demonstrando  familiaridade com músicas absolutamente desconhecidas para mim, não exatamente o indivíduo mais leigo neste aspecto. O fiapo mais próximo de reconhecimento que consegui esboçar foi o nome da Nina Hagen em uma das faixas, e o resto era absoluto mistério. Musiquinhas bonitinhas, não memoráveis, típico schlager dos anos 70. Foi como se uma alemã em férias no Brasil, absolutamente esgotada física e mentalmente, mas principalmente fisicamente, de noites e mais noites de indescritível e arfejante luxúria e volúpia com o Aderbal, resolvesse dar um tempo para cicatrizar as assaduras indo àquele musical com músicas sertanejas com o Michel Teló que às vezes é apresentado no teatro ao lado do cinema que frequento, e nāo entendesse absolutamente nada.

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