02/10 - Kassel


Algumas coisas são incompreensíveis na vida mesmo. Às vezes o ajudante geral do prédio toca a campainha perguntando se tem lixo, vocês trocam aquele olhar, rola um clima, e quando menos se dá conta, você está lá fazendo algo que no mínimo aumentará o volume da sacolinha que ele logo mais carregará até o depósito. Outras vezes, você esbarra naquela colega de faculdade em homenagem a quem já verteu tanto de sua jovem semente em tempos menos calvos, percebe que ela ainda bate um bolão, fica sabendo que ela acabou de se separar, aceita te acompanhar até sua casa para botar as novidades em dia, e aí você broxa vergonhosa e humilhantemente.
Em São Paulo, em agosto, com um recorde de maratona até então de humildes 4h19, numa corrida pela manhã, com o sol mastigando minha cabeça, fiz inacreditáveis 4 horas (tá, 4 horas e 17 segundos...), marca absolutamente inesperada, surpreendente e incompreensível, que eu julgava definitivamente muito além do que minha mais senil condição física e minha falta de preparo mais séria ou mesmo responsável permitiriam.
Aí, aqui na Europa, apesar das dores na virilha e nos pés corri duas maratonas melhores do que as 4h19, Fiz a de Varsóvia em quase respeitáveis 4h07, e, quando nutria a esperança de fechar a Aderbal European Tour, se não baixando as 4 horas, ao menos chegando um pouco mais perto delas, eis que faço uma corridinha medíocre, incompreensível ao contrário, 4h21. Isto é tempo que eu vinha fazendo em treino, sem qualquer brilho.


Maratona, como eu supunha, bem pequenininha. Nem alfinetes vieram no envelope com o número, me forçando a costurá-lo na camisa com fio dental, que já no meio do trajeto começou a se soltar. Só 197 maratonistas, o resto eram os meias e revezamentos.
O problema, com isto, é que com o passar da prova os corredores vão ficando mais rarefeitos, e deixa de haver não só a menininha gostosa atrás da qual correr para inspirar um tempo melhor, mas também um próprio fluxo para orientar sobre o trajeto correto. Passei o tempo todo preocupado com não ficar muito para trás, isolado, e acabar me perdendo, o que de fato aconteceu perto do finalzinho. Eu e outro cara dobramos a esquina errada e, até conseguir voltar para o curso correto, perdi uns dois ou três minutos. Contando a pausinha pro xixi, tempo oficial de 4h26, 149°. lugar. Se a sinalização tivesse sido um pouco menos nas coxas e minha bexiga tivesse tamanho mais similar ao de minha pança, teria chegado em 143°, percentil 73. Bem ruinzinho. Sustentei por 10 km ficar com o pessoal das 3h30. Faltando 11 km e meio, o pessoal das 4h me ultrapassou, enterrando definitivamente o sonho.

Para compensar o relativo fracasso, à tarde resolvi ir come kebab E pizza, num dos restaurantes dos turcos, que meio que monopolizam as duas coisas aqui na Europa. De novo aquela dificuldade de comunicação, em vez de kekab no saquinho trouxeram um prato inteiro, com arroz, tomate assado, cebola roxa, pimenta assada.
E, antes, por conta da casa, um monte de pão árabe, salada, as entradas não paravam de chegar. Temi ter que pagar por aquilo tudo, mas era na faixa mesmo.

E aí o resto do dia foi sentir tristeza pelo meu país, que foi dormir um pouco mais indigno esta noite, e apreensão pelo meu futuro. Segundo turno. O capitão ali pertinho, encostado no nove dedos. Tarcísio muito na frente do Haddad. O astronauta e a Damares eleitos senadores. Claudio Castro eleito em primeiro turno. Pazuello segundo mais votado no Rio, Carla Zambelli segunda mais votada em SP. Salles eleito.
De notícia boa, só que o Alexandre Frota vai precisar voltar a fazer filmes pornôs com travestis, e o Queirós não ter conseguido se eleger.
Os pouquíssimos que forem ler este antiblog, melhor fazê-lo logo. Mais uns meses e já não será mais seguro mantê-lo publicado, cada vez mais não só por força da jihad do politicamente correto.


Comentários

Postagens mais visitadas