30/09 - Leipzig

Disse o guia da caminhada de hoje que o João Sebastião produziu mais de duzentas horas de música. Eu já produzi umas 110, e nem precisei vestir aquela peruquinha! Me aguardem!
Guia, a propósito, que levou uma graninha, não teve jeito, o grupo não estava grande, e conseguiu dar um monte de sugestões erradas: o museu da STASI que seria grátis, mas não era (incompreensivelmente, porque o museu da era soviética, muito maior e mais completo, é), e o restaurante frequentado pelos universitários, que teria o menu enxuto mas com pratos bem acessíveis, onde tive o desprazer de, tá bom, por 7 euros, comer uma lasanha de espinafre com salmão (Vocês não suportariam umas folhas do vegetal entremeadas na lasanha com uma descrição como esta, caros não-leitores? Como aquele, se não me engano, frango à là Boheme, gratinado com molho branco, que tantas vezes encarei com gosto na Cantina do Piero umas décadas atrás, quando a pança não era tão constrangedora). Mas a assim denominada lasanha não tinha massa! Era somente quantidades industriais, petrolônicas, rachadínhicas, de espinafre refogado, entremeadas com umas duas fatias de queijo e umas lasquinhas de salmão meio torradas por cima, e um monte de repolho em volta. Um nojo! E a coca custou 4,20.
Passo estes dias a pensar na trégua a meu jejum intermitente que fazia todo sentido dar nesta viagem. 40 dias sem passar fome, o de hoje especificamente dedicado a passá-lo todo comendo merda, estratégia compensatória mais do que devida, depois do trauma da lasanha do almoço.
De acordo com a última e única pesagem que consegui fazer, peso eu não ganhei. Então olho para baixo, enxergo este tumor abdominal mostruoso que se interpõe entre minha visão e meu pinto, e me ponho e imaginar quanto mais sofrido jejum terei que retomar até conseguir voltar a ter uma convexidade umbilical aceitável, quanto mais exercício com esta virilha meio fodida, filosofando como a vida, assim como em várias peças do João Sebastião, é uma invenção a duas vozes redor do tema do sofrimento: a gente leva uns dois anos passando fome todo dia pra emagrecer e conseguir entrar naquela das poucas calças que não estāo todas puídas na região interna das coxas, durante a viagem engorda 10 quilos, ou sei lá de onde vem o re-aumento da pança, pra depois ter que voltar e retomar esta vida de fome e exercício (só falta a purgação ao cardápio, como faltava massa à lasanha), só pra tentar perder de novo um pouco do pandú e começar tudo de novo no ano seguinte.
Sem programa para a noite, depois daquela vexaminosa comida de bola de ontem, ao menos restava um concertinho de órgão, entremeado com pedaços de missa, mas celebrada por uma padrina, ou qual seja o feminino de padre, e sem hóstia para comer. Ao menos aqui as informações erradas do guia terminaram bem. Disse que custaria 3 euros, mas foram só 2. Órgão é que nem mousse de chocolate ou esposa: bem gostosinho em pequenas quantidades, mas se for só ele, ou por muito tempo, enjoa. 
Mas antes e depois da igreja, 
tinha também apresentação de rock na praça do mercado, então do profano ao sagrado ao profano, com um engordativo calzone alemão cheio de queijo na mão. 
A virilha voltou a fisgar feio hoje, mais uma vez do nada, num dia de até relativamente pouco esforço de caminhada, sem um mau passo, sem qualquer trauma. Depois das maratonas de Helsinborg e de Antuérpia correndo sob a sombra desta lesão, e a de Varsóvia, na qual, ao menos mais agudamente, esta deu uma folga, a próxima corrida se avizinha, mais uma vez com a nuvem da preocupação sobre minha cabeça.

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